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quarta-feira, 29 de julho de 2015

La Paz: uma das cidades mais altas do mundo

Ao contrário do que muitos pensam e embora seja a sede do governo boliviano, La Paz não é a capital da Bolívia, mas sim Sucre (e o guia turístico que nos mostrou a cidade não pareceu muito contente quando eu cometi o erro de me referir a La Paz como capital). Viajando e aprendendo...

A cidade se localiza a 3660 m de altura e foi construída em um enorme vale, cercado de todos os lados por montanhas pertencentes à Cordilheira dos Andes. Para tentar entender como é La Paz, imagine que, no centro desse vale, a cidade começa a ser construída. No entanto, a cidade vai ficando cada vez maior e começa a se expandir pelas encostas dos montes e também na parte mais alta, já fora do vale. La Paz seria, mais ou menos, assim. Uma configuração única. Uma característica que dá ainda mais personalidade a esta cidade. Não é difícil imaginar a quantidade enorme de ladeiras em La Paz. Por quase todo o tempo, estamos descendo ou subindo.

La Paz


Porém, essa configuração pouco usual reflete também a disparidade social na cidade: na região mais baixa de La Paz, onde o clima costuma ser menos frio, se concentram os moradores ricos (empresários, no geral); na região intermediária, a classe média (profissionais graduados); enquanto nas encostas das montanhas, onde o clima frio é mais severo, vive a classe trabalhadora e que, diariamente, precisa descer à parte mais central da cidade para trabalhar. A regra é: quanto mais pobre, mais no alto está localizada a sua casa. Para completar, a maioria das casas, especialmente as que ficam nas encostas e no alto, não possui acabamento sobre suas paredes de tijolos e isto acaba gerando o aspecto de uma única e gigantesca favela que circunda, praticamente, toda a cidade. Vale ressaltar, no entanto, que o boliviano nem chama nem considera o aglomerado de casas no alto das montanhas como favela e, pelo que percebi, seria indelicado usar tal termo com os nativos.

Outra característica da cidade que logo chama a atenção é o trânsito. Nunca vi um trânsito tão caótico em toda a minha vida. E olha que moro em Recife!! Mas o trânsito de La Paz é surreal. As ruas são estreitas, os carros podem trafegar em toda e qualquer direção e a população inteira anda no meio da rua em grandes grupos. É uma mistura de pessoas com carros,um som infindável de buzina, e um nó de carros que você não consegue imaginar como será desfeito. O interessante é que, segundo um local, dificilmente há um acidente e que todos se entendem assim. Mas para um turista, não aconselho dirigir na cidade.

Em relação ao transporte público, não o utilizei, mas ele consiste, basicamente, de ônibus (bem antigos, por sinal). Considerando o trânsito caótico da cidade, preferi optar por táxi (praticamente o único meio de transporte recomendado para ir do aeroporto ao centro).Alguns hotéis fornecem serviço de transfer pago. Acredito, no entanto, que o valor cobrado costuma ser mais caro do que o trajeto feito em táxi comum, como ocorria com o hotel em que fiquei hospedado. Há também, na cidade, aqueles ônibus turísticos que percorrem as principais atrações, embora não lembre de ter visto nenhum durante meus passeios. A forma preferida, por mim, no entanto, para percorrer as atrações,foi contratar o serviço de uma agência de turismo (não gosto deste tipo de serviço e o evito o máximo possível, mas, em La Paz, achei a melhor opção, uma vez que incluía atrações distantes do hotel onde eu estava e de mais difícil acesso, como o Vale da Lua).

Mas, para a maioria dos viajantes, uma preocupação comum (e necessária) quando o assunto é viajar para uma cidade alta como La Paz, é como lidar com o mal da altitude ou soroche, como é conhecido. Mas do que se trata exatamente esse mal? Como bem sabido, a concentração de oxigênio no ar atmosférico se torna cada vez menor à medida que se aumenta a altitude, de modo que, em regiões muito altas, a respiração vai ficando cada vez mais difícil. E, considerando que o consumo de oxigênio pelo organismo aumenta quando fazemos esforço, o desconforto vai ficando pior quando não estamos em repouso. E os sintomas podem não se restringir apenas a falta de ar: dor de cabeça, tontura, náuseas e vômitos também podem ocorrer e, consequentemente, atrapalhar a viagem. E a possibilidade desses sintomas aumentam quanto maior for a altitude, quanto mais você se esforçar (para caminhar, por exemplo) e quanto menor for sua resistência física (atletas tendem a sentir menos sintomas).

Mas como prevenir o soroche? 

A primeira dica é: repouso no primeiro dia da viagem. Eu sei!! Chegar numa cidade nova e já não sair imediatamente percorrendo suas ruas não é fácil. Mas, ao viajar para áreas muito altas, esta é uma forma de ir adaptando aos poucos o seu organismo à baixa concentração de oxigênio. O aconselhável é realizar os passeios mais tranquilos no início e deixar aqueles mais "puxados" ou em locais mais altos para o final. No meu caso, não tive muito a opção de deixar o local mais alto para o final, já que La Paz seria a região com maior altitude em toda a viagem (e confesso que eu estava com bastante medo do soroche). Para compensar, cheguei na cidade e fui direto me deitar, deixando os passeios para os dias seguintes. Mas tive poucos sintomas, restritos apenas à falta de ar quando eu caminhava por mais tempo e mais rápido (mas nada que tenha atrapalhado o passeio pela cidade). Até porque a presença de sintomas é relativa. Algumas pessoas podem não sentir nada, enquanto outras já sentem assim que desembarcam do avião no aeroporto de La Paz que, na verdade, fica em El Alto, a 14Km do centro e a 4000 m de altura.

Outra dica é tomar bastante chá de coca que, segundo os locais, ajuda a evitar os sintomas. Não sei se é realmente eficaz, mas, na dúvida, preferi experimentar. O chá está presente em todo local, desde a recepção dos hotéis (onde costuma ser fornecido de graça) até em barraquinhas nas ruas, onde é vendido. Em farmácias, pode-se encontrar medicamentos que aliviam os sintomas (basta pedir algo para o soroche).

Chá de coca fornecido de graça pelo hotel




Além de tudo, é recomendado se hidratar bastante durante os passeios, uma vez que desidratação pode ocorrer mais facilmente durante o mal da altitude. Então, não se esqueça de estar sempre com uma garrafinha de água mineral (baratíssima em La Paz).

E mais uma vez, reforço: evite atividades que exigem mais do seu corpo assim que chegar de viagem; se você curte fazer trilhas, por exemplo, espere seu organismo se acostumar com a altitude (aclimatar-se), mesmo que você seja acostumado e tenha bom preparo físico. Não corra o risco de gerar um quadro mais grave que os sintomas descritos acima, como o estabelecimento de um estado de coma, por exemplo.

Por fim, caso seu companheiro(a) de viagem comece a apresentar certo grau de desorientação, procure um hospital. Mas calma, não tenham medo. Seguindo as orientações e se prevenindo, é possível viajar para áreas de grandes altitudes e aproveitar o passeio sem receios.

No próximo post, falarei sobre as principais atrações da cidade e sobre o excelente hotel em que ficamos hospedados.

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