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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Como é a visita a Robben Island

Em 1948, a segregação racial foi institucionalizada na África do Sul, tornando-se uma política praticada pela minoria dominante branca sobre as demais etnias que, mesmo em maior número, não tinham acesso ao poder. E, assim, negros, indianos, malaios ou qualquer outra etnia não-branca passou a ser considerada, oficialmente, inferior, sendo expulsos de suas moradias com o objetivo de estabelecer bairros onde apenas brancos podiam viver e transitar (vide o que aconteceu no District Six em Cape Town, episódio retratado em um dos dos museus do centro da cidade). Além disso, os serviços de educação e saúde, entre outros, aos quais os não-brancos tinham acesso, também eram de qualidade inferior, marginalizando cada vez mais esta parcela da população sul-africana.

Parece surreal acreditar que, no passado recente (o Apartheid só acabou em 1994), coisas como esta ainda pudessem existir no planeta. O pior é ter consciência de que, em muitos lugares, isto ainda existe, mesmo que de forma velada. Sentir-se superior por ter uma cor de pele diferente não é, infelizmente, coisa apenas do nosso passado. E como não poderia deixar de ser, é algo que gera revolta.

E, não à toa, o Apartheid gerou uma crescente revolta na classe que, constantemente, era inferiorizada e marginalizada. Revoltas começaram a estourar pelo país. A violência se tornou crescente. E a solução adotada pelo governo foi exilar e prender os líderes revolucionários. Entre eles, um dos maiores ícones da África do Sul, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela, que foi preso na Robben Island por mais de 20 anos.

Robben Island e, ao fundo, a Table Mountain


Mas a Robben Island, pequena ilha localizada na Baia da Mesa, em Cape Town, não teve apenas Mandela como prisioneiro. Inúmeros outros revolucionários, negros, que lutavam apenas por igualdade, foram trancafiados juntos ao seu líder na prisão da ilha, onde tinham que viver em condições sub-humanas, sendo submetidos a trabalhos forçados, celas minúsculas e alimentação precária. E, dentro do próprio presídio, a segregação também era vigente, de modo que negros tinham menos direitos e eram submetidos a maiores sofrimentos.


E, hoje, a Robben Island e sua prisão é considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e, nela, funciona um museu cujo objetivo é relembrar o período do Apartheid. A prisão continua de pé, as suas celas continuam em exposição, os campos de trabalho forçado continuam preservados, tudo lá, escancarado, para que ninguém esqueça...

A prisão da Robben Island, hoje, é museu


E, não à toa, é uma das visitas mais populares de Cape Town. Afinal, foi nesta prisão em que Mandela, o sul-africano mais famoso do mundo, passou boa parte de sua vida. Numa tentativa de fazer o líder revolucionário (e pacífico) se calar, o governo o trancafiou. Mas, mesmo lá dentro, Mandela (ou Madiba - nome do seu clã - como é referido pelo seu povo), se manteve como forte influenciador, destacando-se como líder e sempre encontrando uma forma de manter seus ideias vivos.

E, de prisioneiro, Mandela tornou-se presidente, eleito pelo povo, em 1994. A minoria governante tentou mantê-lo inerte, mas a sua voz ganhou o mundo. O Prêmio Nobel da Paz veio em 1993. E este grande líder sul-africano se tornou um dos maiores exemplos do novo milênio. Um homem que conseguiu reconstruir seu país, acabar com a segregação institucionalizada, estabelecer as bases para uma nação pacífica e multiétnica e, assim, entrar para a história.

Agora me diga: tem como não querer conhecer a Robben Island?

Como visitar a Robben Island?

Como se trata de uma ilha, o acesso é, obviamente, feito de barco, que parte do V&A Waterfront duas a três vezes por dia (dependendo da época do ano). Fomos no verão, quando estava havendo três saídas diária. Os horários de saída variam de acordo com o período do ano e devem ser consultados no website oficial da Robben Island.

O local exato de partida é o Nelson Mandela Gateway, localizado próximo à Torre do Relógio. Os bilhetes para o barco já incluem a visita à ilha e à prisão, não sendo necessário pagar mais nada ao desembarcar na ilha. Podem ser comprados online no site oficial da Robben Island ou presencialmente na bilheteria da Nelson Mandela Gateway. O ingresso nos custou 340 rands por pessoa.

A principal dica aqui é comprar o bilhete com o máximo de antecedência possível. Afinal, são poucas saídas por dia. Nós nos dirigimos para o local de compra no nosso primeiro dia em Cape Town e só havia disponibilidade de ingresso para dois dias depois  e no último horário (o das 15h). Portanto, especialmente, durante o verão, você pode não encontrar ingresso para o mesmo dia. Acredito que, no inverno, isto seja mais tranquilo.

O Nelson Mandela Gateway, onde se pega o barco para a Robben Island

Com os bilhetes em mãos, recomenda-se chegar no local de partida, cerca de 30 min antes. Quando lá chegamos, para pegar o nosso barco, a fila já estava do lado de fora do prédio, debaixo de um sol nada amigável. Então, quanto mais cedo você chegar, maior a chance de ficar aguardando no interior do prédio. 

Ao longo da fila, você também terá a oportunidade de ler um pouco sobre a história do Apartheid, registrada com inúmeras fotos nas paredes da área de embarque.

Logo na entrada, o busto dele, Nelson Mandela, de quem os sul-africanos têm imenso orgulho


A fila para pegar o barco


História do Apartheid contada nas paredes


O barco para a Robben Island

Como é o tour pela Robben Island?

O tour, começando com a saída do barco do V&A Waterfront e finalizando com o seu retorno, dura cerca de 3 horas. O trajeto do barco até chegar à ilha demora cerca de 40 minutos. Mas boa parte deste tempo é gasto admirando-se a vista de Cape Town e da incrível Table Mountain que vai se distanciando do nosso olhar à medida que o barco avança. Se você tiver sorte, ainda conseguirá ver focas nadando pelo mar ao longo do percurso.

E o barco vai se afastando...
















O barco conta com um pequeno bar, onde é possível comprar água, bebidas e alguns lanches (com custo adicional).

Uma vez chegando à ilha, você não estará livre para fazer e andar por onde quiser. Todos os visitantes são, imediatamente direcionados para os ônibus que seguirão pelos pontos mais importantes da ilha, enquanto guias vão fornecendo informações. Entre estes pontos, a área onde os acometidos por hanseníase eram isolados, o local onde seus corpos eram deixados, uma vez mortos, uma antiga escola onde os filhos dos funcionários da ilha estudavam no passado, casas onde os funcionários atuais residem, e o que mais nos chamou a atenção: o campo de trabalho forçado, onde os prisioneiros, incluindo Nelson Mandela era obrigado a extrair e carregar pedras.

Este campo, aliás, possui uma pequena caverna na rocha que muitos funcionários consideram sua antiga universidade, pois era lá onde os mais instruídos aproveitavam para instruir os demais durante os intervalos. Após o fim do Apartheid, Nelson Mandela e vários outros ex-prisioneiros políticos estiveram ali e ergueram uma coluna de pedras em memória ao sofrimento vivenciado ali.

Todos vão descendo do barco...


E seguindo para aqueles ônibus


E começa o tour


Campo de trabalho forçado. Estão vendo o montinho de pedras próximo ao paredão? Foi Nelson Mandela e os demais ex-prisioneiros que o fizeram.


A última parada, a única em que todos podem descer dos ônibus, é uma pequena lanchonete, onde todos podem ir ao banheiro ou comprar um café e um lanche ou apenas apreciar a vista incrível de Cape Town a partir dali (é possível também apreciar os pinguins que vivem na ilha). Mas aviso que o tempo desta parada é curto e não há muito tempo para apreciar a paisagem e fotografar caso você queira comprar algo e ainda ir ao banheiro. Confesso, inclusive, que quase perdemos o ônibus, porque eu, teimoso, resolvi tentar fazer tudo isso.

Aquela casinha no canto é onde se para para ir ao banheiro e comprar café ou água. E para tirar fotos, claro!


Cape Town vista da Robben Island



Uma vez finalizado o tour de ônibus, todos descem e seguem para o interior da prisão. Os visitantes são colocados em uma sala e sentam-se enquanto são apresentados ao guia que mostrará a prisão. Ao se apresentar, uma surpresa: o guia é um antigo prisioneiro. Hoje ele vive na ilha e trabalha para o museu, fornecendo aos turistas uma visão fidedigna dos tempos vividos ali.

Todos seguindo para o interior da prisão


No interior





Ex-prisioneiro contando como eram seus dias ali dentro


Sua fala é emocionante. Meu inglês é péssimo e muito do que ele falava eu não entendia. No entanto, era perfeitamente possível captar a emoção presente em sua voz e em seu olhar. Em vários momentos, fui tocado por suas palavras e enchi os olhos de lágrimas sem nem entender o que ele falava, mas tentando entender o que ele sentia. Para mim, este foi o momento ápice do tour.

Entre as reviravoltas da vida, hoje o seu vizinho na ilha é um antigo guarda da prisão. E eles, agora, são amigos. Uma linda reviravolta, aliás.

O guia segue, então, pelos corredores da prisão, nos apresenta a um pátio externo, nos fala sobre os dias de Nelson Mandela ali dentro e, ao final de tudo, temos acesso ao pequeno cubículo, onde o líder viveu por anos. Difícil acreditar que em um espaço tão pequeno, ele conseguiu manter a sanidade para, no futuro, levar paz ao seu país. Um ser humano, sem dúvidas, evoluído e um exemplo para a humanidade.

O tour continua


A minúscula cela onde Nelson Mandela ficou preso por anos

Após a visita à cela de Nelson Mandela, o tour chega ao fim e todos devem voltar imediatamente ao barco, cujo horário de retorno é fixo e avisado com precisão a todos os visitantes. Como o retorno foi contra o vento, o barco balançou muito e caminhar por ele se tornou quase impossível.

A vantagem de pegar o último tour do dia foi a possibilidade de ver um pouco o por do sol enquanto retornávamos. Portanto, indico que, se possível, você pegue o tour das 15h (se ele estiver disponível, claro). Outra vantagem deste horário é o sol menos escaldante, já que os espaços em aberto que percorremos na ilha, praticamente, não tinham sombra. Não se esqueça, assim, do protetor solar e de um chapéu ou boné para fazer o tour pela ilha.

Por do sol em Cape Town nunca é demais





Do outro lado, a Table Mountain coberta por uma nuvem. É o que se chama de "toalha da mesa"

Após o final do passeio, como já estávamos no Waterfront mesmo, claro que aproveitamos e ficamos passeando por lá (para variar). Escolhemos um lugar para jantar e já começamos a nos despedir da maravilhosa Cape Town, já que, no dia seguinte, seguiríamos para o Cabo da Boa Esperança e, de lá, para outras cidades do país. 

Nosso passeio por Cape Town chegava ao fim nos dando a certeza de que aquela, sem dúvidas, já era umas das mais maravilhosas e bonitas cidades que conhecemos.


OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.

2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

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