Menu

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Roteiro de um dia na capital húngara: o lado Peste

Chegamos à Budapeste às 5 horas da manhã, após 7 horas de viagem em um ônibus desconfortável que partira de Cracóvia, na Polônia. Dormimos pouco. Estávamos muito muito muito cansados. Não tínhamos um centavo em moeda húngara no bolso. Nenhum estabelecimento do terminal de ônibus aceitava euro para que pudéssemos comprar algo para comer. A casa de câmbio só abriria às 7 horas da manhã. E eu não conseguia encontrar ninguém que falasse inglês. Por sorte, o banheiro, que era pago, aceitava moedas de 1 euro (pelo menos isso). 

Éramos dois turistas sentados nos bancos do terminal de ônibus, com muito sono, cansados ao cubo, com fome, arrependidos por não termos pago mais por um trem noturno com leito e com medo de não conseguirmos juntar forças suficientes para passear pela bela Budapeste.

Felizmente, após conseguirmos trocar o dinheiro e nos alimentar, a força começou a ressurgir e partimos, então, para a nossa aventura de um dia na capital húngara. Confesso que não foi fácil, que em muitos momentos achamos que o cansaço nos dominaria, mas no final acabou valendo a pena. Porque Budapeste é encantadora o suficiente para fazer qualquer esforço valer à pena. 

A única dica que deixo é: se optar por fazer o mesmo que nós e passar um dia apenas na cidade, certifique-se de descansar bem na noite anterior. Não faça como nós, que, para economizar, passamos a noite em um ônibus sem conforto algum...

Dividimos nosso passeio por Budapeste em duas partes: a primeira focada em Peste e a segunda focada em Buda, do outro lado do rio Danúbio, uma divisão lógica para quem tem apenas um dia na cidade.

Peste vista a partir do castelo de Buda. Em destaque, a imponente cúpula da Basílica de St Estêvão


Começamos o roteiro pegando um metrô no terminal de ônibus (após deixar nossa bagagem no guarda-volume do local) com destino à estação Opera, localizada na Avenida Andrássy. A intenção era caminhar pela avenida, uma das mais importantes e bonitas da cidade, em direção à Praça dos Heróis. Saímos da estação e avistamos a Ópera de Budapeste. Seguimos caminhando e logo percebemos que, aquela hora do dia, a avenida ainda estava pouco movimentada. O dia estava apenas começando em Budapeste.

A avenida conta com belos prédios e casas históricas, muito bem preservados e que já nos dava um tom de sofisticação que não esperávamos encontrar na capital húngara. Inúmeras lojas de marca como Gucci e Louis Vuitton podem ser encontradas ao longo da avenida. E, além da Ópera de Budapeste, outra atração turística da avenida é o Museu do Terror (Terror Háza), que mostra as consequências dos regimes fascistas e comunista sobre a Hungria (infelizmente não tínhamos tempo para entrar).

A charmosa Avenida Andrássy






Trajeto percorrido entre a Opera e a Praça dos Heróis

Ao fim da nossa caminhada pela avenida nos deparamos com a imponente Praça dos Heróis (Hosok Tere). Com sua construção iniciada no final do século XIX, a praça se destaca pela presença do Memorial do Milênio, um conjunto de estátuas que representam importantes figuras históricas da Hungria, incluindo os líderes das sete tribos magiares que fundaram o país (falo mais sobre os magiares neste post). As estátuas destes sete líderes contornam a coluna central da praça, no topo da qual está representado o Arcanjo Gabriel. De cada lado desta coluna, erguem-se as estátuas de outros personagens icônicos da história húngara, entre eles o tão presente Santo Estêvão, que dá nome à Basílica da cidade, como falarei posteriormente.

Praça dos Heróis

Coluna central, com o Arcanjo Gabriel, no topo, e os líderes das sete tribos magiares que fundaram a Hungria


Estátuas de importantes figuras históricas da Hungria

De cada lado da praça, tem-se dois museus: à esquerda, o Museu de Belas Artes de Budapeste (fechado na época da nossa visita, com reabertura prevista para a primavera de 2018); e, à direita, o Palácio da Arte. Por trás da praça, está um dos mais importantes parques da cidade: o Városliget. Passamos um curto período de tempo neste parque, já que tínhamos apenas um dia para aproveitar o resto da cidade.

Museu de Belas Artes






Parque Városliget




Pegamos, então, o metrô (há uma estação bem próxima à Praça dos Heróis, a Hosok Tere, servida pela linha M1) e seguimos para a próxima atração a ser visitada: a Basílica de São Estêvão. Mas, afinal, quem foi este santo tão presente em nossa viagem (em Viena mesmo, a catedral recebe o nome do mesmo santo)?

Estêvão I, o Grande, foi o primeiro rei da Hungria. Filho de um líder de uma tribo magiar, seu nome, na verdade, era Vajk, mas teve que trocar de nome para poder ter sua realeza aprovada pelo Vaticano. Converteu-se, então, ao catolicismo e logo cuidou de converter (à força, obviamente) todo o seu povo, entrando em guerra contra os ditos pagãos. Provavelmente, matou muita gente em nome da Igreja. Não me parecia muito santo, mas pelo seu papel na difusão do catolicismo foi canonizado após a sua morte (história muito semelhante ao do Rei Venceslau, na República Tcheca, a qual conto aqui). Sempre que leio essas histórias sobre a origem de alguns santos, fico pensativo. Mas vamos continuar o relato para não gerar polêmica...

Santo Estêvão tornou-se um dos maiores heróis da Hungria e, até hoje, é venerado pelos húngaros, ganhando, assim, uma Basílica em seu nome. E que Basílica!!! Imponente, luxuosa e requintada, a Basílica de São Estêvão é um dos maiores edifícios da cidade. Mas confesso que não tive paciência para ficar muito tempo no seu interior. No final, o interior dessas igrejas acabam sendo tão iguais... Inclusive, esqueci de ir checar uma das maiores relíquias presentes no interior da Basílica: a mão direita mumifica do Rei Estêvão. Isso mesmo!! O culto do povo húngaro a este homem é tão grande que sua mão foi mumificada e permanece lá para quem quiser ver!! Bizarro!!

Basílica de St Estêvão








A entrada da Basílica é gratuita, mas se você quiser um tour detalhado do local, tendo, inclusive a oportunidade de subir (de elevador) até sua cúpula (opção existente apenas entre 1 de abril a 31 de outubro), há tours guiados no valor de 2000 HUF de segunda à sexta, das 10 às 15 horas. Você pode optar apenas por subir até a cúpula para ter uma vista panorâmica da cidade por 500 HUF.

Saímos da Basílica e seguimos a pé até o Parlamento Húngaro. Todos os prédios, ruas e praças dessa área de Peste são muito bonitos, de forma que a cidade continuava nos surpreendendo. Organizada, limpa, requintada e bela. Em muitos momentos, nos lembrava Viena.


Caminhando pelas ruas de Budapeste, em direção ao Parlamento





Monumento ao Holocausto, inaugurado recentemente na Praça da Liberdade. Representando a Hungria, na forma de um arcanjo, enfrentando a Alemanha Nazista na forma de uma águia, a construção desse monumento gerou polêmica e foi repudiado pela comunidade judaica e pelos descendentes dos húngaros que sofreram com a guerra, uma vez que ele parece negar a aliança da Hungria com Hitler, mascarando, assim, a responsabilidade húngara sobre o holocausto.
O mapa mostra o trajeto entre a Basílica e o Parlamento, passando pela Praça da Liberdade (Szabadság Tér). A seta vermelha mostra a localização de acesso ao centro de visitantes do Parlamento

Chegamos ao Parlamento e a impressão foi instantânea: que prédio lindo!!!! O mais bonito de Budapeste. O prédio fica às margens do Danúbio e foi inaugurado em 1896 para servir de sede para a Assembléia Nacional da Hungria. E se você já ficará impressionado com a arquitetura externa do edifício, não sabe o que te aguarda no seu interior. Muito requinte, muito ouro, muito luxo. A visita guiada pelo Parlamento, sem dúvida alguma, vale muito à pena. Portanto, não tenha dúvidas, em fazê-la.

Prédio do Parlamento visto a partir da Colina do Castelo, em Buda






Mas como exatamente ocorre esta visita guiada?

O tour guiado demora cerca de 45 a 50 minutos e ocorre em horários específicos com alternância do idioma utilizado. Abaixo, listo os idiomas oferecidos com os horários especificados:

A. Húngaro: 10:30 / 13:30
B. Inglês: 9:45 / 10:00 / 12:00 / 13:00 / 14:00 / 15:00
C. Espanhol: 10:15 / 13:15 / 14:15 / 16:00
D. Alemão: 10:00 / 13:00 / 14:00
E. Francês: 11:00 / 13:30
F. Italiano: 10:15 / 13:15 / 14:15 / 15:30
G. Russo: 12:30 / 15:15
H. Hebreu: 12:30

Como é possível observar, não existe a opção de um tour em português.

Você pode adquirir o ingresso no centro de visitantes do Parlamento (localizado no lado do prédio oposto ao Danúbio; ver mapa abaixo), mas tenha em mente que, dependendo da época do ano, pode não haver mais vaga disponível no horário e idioma de sua preferência. Fui em novembro, época de baixa temporada, e consegui comprar, na hora em que cheguei, o ingresso já para o tour seguinte. Mas caso você esteja em Budapeste em uma época de alta temporada, sugiro que faça a compra dos ingressos online, levando-os impressos e apresentando-os no centro de visitantes com uns 15 minutos de antecedência.

O site para compra é o seguinte: http://www.jegymester.hu/eng/Production/480000/Parliament-visit

Para turistas que não sejam cidadãos da União Europeia, o ingresso do tour custa 5200 HUF.

O passeio começa na hora marcada e após passar por um Rx e um detector de metais. A entrada com mochilas não é permitida, sendo necessário deixá-las em um guarda-volumes específico presente no centro de visitantes. 

Ao longo do tour, percorremos os belíssimos corredores do prédio. Muito ouro está presente nos detalhes, ornamentando inúmeras salas. Dois seguranças do parlamento acompanham a visitação. Apenas em alguns locais específicos, as fotos são permitidas. O ápice do tour é a sala abaixo da cúpula (infelizmente, aqui, as fotos são proibidas). A parede circular é ornamentada pelas estátuas de todos os reis que governaram a Hungria, incluindo Estêvão I, claro!! E no centro da sala, bem abaixo da cúpula, fica a maior relíquia dos húngaros, a coroa do Rei Estêvão, feita de ouro e pedras preciosas, presente do Papa Silvestre II e utilizada por todos aqueles que reinaram sobre a Hungria. 









Saímos do Parlamento encantados pelo seu interior e seguimos para a orla do Danúbio. A ideia seria caminhar, seguindo o rio, até a Ponte das Correntes, a partir da qual atravessaríamos o Danúbio, terminando nosso passeio por Peste e iniciando a segunda parte do roteiro, agora em Buda.

Buda vista a partir das margens do Danúbio, em Peste


Durante este passeio pelas margens do rio, entretanto, mais uma atração turística nos esperava: esculturas de sapatos em tamanho real, os chamados "Sapatos às margens do Danúbio".

Sapatos?? Porque a cidade de Budapeste faria esculturas de sapatos e os colocaria na margem do seu rio? Na verdade, os sapatos representam uma singela homenagem aos inúmeros judeus que foram executados durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas levavam os judeus para a beira do Danúbio, os executavam com tiros e jogavam seus corpos no rio, mas não sem antes tirar os seus sapatos, cujo couro seria aproveitado. Há sapatos de homens, mulheres e crianças. Um simples e belo memorial...

Sapatos às margens do Danúbio




Ao fundo, a Ponte das Correntes e o Castelo de Buda do outro lado do rio

No próximo post, continuarei o relato do nosso dia único em Budapeste, focando em Buda, do outro lado do Danúbio.


PARA SE PLANEJAR:

1. Casa do Terror

Horário de funcionamento: diariamente das 10 às 18h  (fechados nas segundas). A bilheteria fecha às 17:30h.
Entrada: 2000 HUF
Como chegar: de metrô (linha M1 até a Estação Vorosmarty utca)

2. Cúpula da Basílica de St Estêvão

Horário de funcionamento: diariamente das 10 às 16:30h (de 1 de outubro a 30 junho) e das 10 às 18:30h (de 1 de junho a 30 de setembro).
Entrada: 500 HUF 
Como chegar: de metrô (linha M1 até a Estação Bajcsy-Zsiliinszky)

3. Parlamento Húngaro

Horário de funcionamento: diariamente com tours realizados com horários que variam de acordo com o idioma escolhido (checar neste link e não no website do parlamento)
Entrada: 5200 HUF
Como chegar: de metrô (linha M2 até a Estação Kossuth Lajos tér)



OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.

2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio








2 comentários:

  1. Parabéns pela descrição analítica do contexto da sua ida a Magyarorszag, terra dos meus antepassados . A matéria ficou muito boa mesmo ! GRATULALOK !😉

    ResponderExcluir