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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Dicas práticas sobre o Mont Saint-Michel

Durante a programação da nossa viagem à França, eu havia colocado um destino como algo obrigatório no nosso roteiro: o Mont Saint-Michel. Desde a primeira vez que ouvi falar sobre o lugar e, após ver algumas fotos na internet, ele passou a ser um dos locais que mais sonhava conhecer no mundo.

Portanto, já que iria a Paris, não tinha a menor chance de não incluir uma visita ao monte. Após inúmeras pesquisas na internet, cheguei à conclusão que a melhor e mais prática forma de chegar ao lugar, localizado na Normandia, seria alugando um carro e dirigindo pelas estradas do norte do país. Decisão que acabou se mostrando acertadíssima. Afinal, embora o aluguel de carro na França não seja barato, a possibilidade de montar nosso próprio trajeto, sem rigidez no horário e parando onde quiséssemos, não teve preço (e no caminho de ida, incluímos um desvio para conhecermos Étretat, enquanto, na volta, resolvemos passar pelo Vale do Loire).

A ida ao Mont Saint-Michel, no entanto, requer planejamento e, portanto, darei, neste post, algumas dicas úteis sobre o lugar com o objetivo de ajudar aqueles que, assim como nós, optem por explorar essa magnífica atração francesa. A descrição da nossa visita em si pode ser lida no post Conhecendo o Mont Saint-Michel.

O que é o Mont Saint-Michel?


O Mont Saint-Michel é uma ilha em formato de monte que, durante a maré baixa passa a ter contato com o continente, voltando a ficar ilhada durante a maré alta. No seu topo foi, anos atrás, construída uma abadia em tributo ao Arcanjo São Miguel, enquanto, em torno do mosteiro, uma pequena e murada vila medieval foi erguida.

O Mont Saint-Michel. No topo, a abadia. Em volta desta, a pequena vila medieval murada. Em torno do monte, a baía durante a maré baixa


Patrimônio Mundial da UNESCO, o Mont Saint-Michel representa uma relíquia da Idade Média, devido à arquitetura cuidadosamente preservada das construções que ali foram erguidas. Esse aspecto, associado à característica geográfica inusitada do monte proporcionada pela dança das marés, fez do local uma atração para os viajantes que querem, além de se sentir viajando no tempo, assistir ao lugar se transformando em ilha.

A baía em volta do Mont Sain-Michel já cheia d´´agua, vista da muralha

E esta característica geográfica ainda proporcionou que o monte se tornasse estratégico do ponto de vista militar, tornando-se, durante a Guerra dos Cem Anos, o principal símbolo da resistência francesa à invasão da Inglaterra, já que os ingleses não conseguiam invadir as muralhas do monte devido à invasão do seu entorno pela água.

E, assim, de símbolo religioso a símbolo militar, com sua bela arquitetura medieval, destacando-se a imponente abadia no seu topo, e com a incrível dança das marés que fornece a mágica que o lugar desperta nos visitantes, o Mont Saint-Michel representa, hoje, um dos pontos turísticos mais visitados da França (posto este bastante merecido).

Onde se localiza o Mont Saint-Michel?


O Monte Saint-Michel se localiza na Normandia, a oeste e a cerca de 360 Km de Paris, o que representa cerca de quatro de horas de viagem de carro. 

Sua posição, em pleno litoral, permite a sua transformação em ilha, uma vez que apenas um istmo de terra o liga ao continente (veja no mapa abaixo). A localização corresponde à foz do rio Couesnon e todo seu entorno, durante a maré baixa, corresponde a uma enorme baía enlameada (com aluns pontos de areia movediça).



O vilarejo mais próximo do monte se chama La Caserne (são cerca de 3Km de distância), o que confere ao local um ar de isolamento que só intensifica o aspecto lúdico da visita. No entanto, bem em frente ao monte, a cerca de 30 a 40 minutos de caminhada, encontra-se uma espécie de complexo turístico composto por hotéis e restaurantes e por onde passam ônibus regulares que vão e retornam do monte.

Entendendo a estrutura em torno do Mont Saint-Michel

Além do próprio monte em si, com sua pequena cidade murada, com sua abadia no topo e com o terreno enlameado ao seu redor, o local conta ainda com as seguintes estruturas e características:

1. Um estacionamento para os ônibus e vans de excursões e para os carros daqueles que não pretendem se hospedar nos hotéis do complexo citado abaixo. O estacionamento custa 11,70 euros para a permanência de até 24 horas. Para mais do que isso (até 48 horas, o valor cobrado será de 23,40 euros). Para menos de 2 horas: 6,30 euros. Mas será praticamente impossível conhecer o monte em menos de 2 horas. Do estacionamento, partem ônibus frequentes em direção ao Mont Saint-Michel, sem custo adicional

2. Uma espécie de complexo de hotéis, lojas e restaurantes localizado em frente ao monte, a cerca de 2,5 Km. Foi onde ficamos hospedados. Aqui é possível entrar com o carro (apenas os hóspedes). O próprio hotel fornecerá o estacionamento (o nosso não teve custo adicional, mas vale à pena checar durante a reserva). Vale ressaltar que, se o seu hotel estiver dentro da cidade murada, no próprio monte, o acesso de carros não é permitido (nem teria como trafegar pelas estreitas ladeiras do lugar). Do complexo, você pode pegar, gratuitamente, os ônibus que vem do estacionamento, para ir e voltar do monte.  

Ônibus que liga o estacionamento público ao Mont Saint-Michel, passando pelo complexo de hotéis, onde estávamos hospedados. O banco mostrado na foto corresponde ao local de parada do mesmo. Não é cobrado nenhum valor adicional para utilizar o transporte e o mesmo pode ser utilizado quantas vezes for necessário.


3. Uma passarela que liga o complexo citado acima ao monte e que permite o nosso acesso até ele, seja caminhando, seja através dos ônibus regulares, seja através do nosso próprio carro, desde que estejamos hospedados no complexo (e lembrando que o carro não pode atravessar a muralha, devendo ficar estacionado do lado de fora). Uma dúvida que tinha, antes da viagem, era se esta passarela também ficava inundada durante a maré cheia, isolando por completo o acesso. Mas isto não ocorre, de forma que o trânsito pela passarela não é interrompido em nenhum momento. De qualquer modo, não tivemos coragem de seguir até o monte com nosso carro alugado, por medo de estacionar em algum local que ficasse alagado durante a cheia da maré.

A passarela que vai até o Mont Saint-Michel. Percebam a baía vazia

A passarela, agora com a baía enchendo. Mas a água não a invade.


O ônibus chegando a monte. A maré aqui já estava completamente cheia.



Nas imagens acima mostro a localização do Mont Saint-Michel em si e, abaixo, o local onde se encontram o complexo de hotéis e o estacionamento público (circulado em vermelho) para queles que não estão hospedados no interior do complexo.

Como chegar ao Mont Saint-Michel?

Posso citar três formas de se chegar ao Mont Saint-Michel partindo de Paris: trem + ônibus; carro alugado; excursões turísticas.

1. Trem + ônibus: 

Embora a França seja ricamente abastecida pelo sistema ferroviário, não há estação de trem no Mont Saint-Michel. Só resta, então, para quem quer usar o transporte público do país, sair de Paris de trem até uma cidade próxima e, então, pegar um ônibus que te deixará diretamente no monte.

Para facilitar a vida do turista, no entanto, o sistema de transporte francês já conecta diretamente seus trens aos ônibus para o Mont Saint-Michel em três cidades diferentes:

Rennes: o trem parte da Estação Montparnasse em Paris e, após 2 horas, chega à cidade. Você só precisa seguir até o terminal de ônibus que fica próximo à estação de trem e pegar o ônibus (da empresa Keolis Emerauda) que, em 1 hora e 20 minutos, te deixa no Mont Saint-Michel. A passagem custa 10 euros e pode ser comprada diretamente com o motorista. O horário de saída dos ônibus são sincronizados com a chegada dos trens.

Dol de Bretagne: o trem parte da Estação Montparnasse em Paris e, após 2 horas e 40 minutos, chega à cidade. O ônibus (da mesma companhia citada acima) estará parado do lado de fora da estação e te deixará no Mont Saint-Michel em 30 minutos. A passagem custa 8 euros, pode ser comprada com o motorista e o horário de saída também está sincronizado com a chegada dos trens.

Pontorson: não há trem direto de Paris até esta que é, das opções, a mais próxima do Mont Saint-Michel. Você terá que pegar um trem na Estação Saint-Lazare até Caen (cerca de 2 horas de viagem) e, daqui, outro trem até Pontorson (mais 2 horas de viagem), onde será possível pegar um ônibus que, em cerca de 20 minutos, te deixará no Mont Saint Michel. A passagem do ônibus custa 2,80 euros.

Para retornar a Paris, basta fazer o trajeto contrário aos descritos acima.

Ao comparar os 3 destinos que intermedeiam a ida ao monte, fica claro que a terceira opção é a menos vantajosa, uma vez que requer mais tempo e, provavelmente, mais dinheiro (por envolver dois trechos de trem). Não há muita diferença em relação ao tempo de viagem entre as duas primeiras opções (indo por Dol de Bretagne você economiza cerca de 10 minutos apenas). Portanto, acredito que os valores e os horários dos trens serão os fatores que determinarão a sua escolha.

Lembre-se, no entanto, de reservar os tickets de trem com antecedência para garantir um valor mais em conta (as passagens podem ser compradas com 3 meses de antecedência). Caso deixe para comprar muito em cima e, estando em um grupo de 3 a 4 pessoas, talvez o carro alugado saia até mais barato.

Mais informações sobre a combinação trem + ônibus no site oficial do Mont Saint-Michel.


2. Carro alugado:

Esta acabou sendo a nossa escolha por um motivo: permitir mais liberdade no trajeto. Queríamos, por exemplo, passar por Étretat antes de chegar ao monte e apenas um carro a nossa disposição nos permitiria a liberdade de tempo e escolha que precisávamos.

Obviamente, esta opção pode sair mais cara, considerando ainda o combustível e os pedágios na estrada. Especialmente, se forem só você e mais outra pessoa para dividir os custos. Mas as rodovias da França são excelentes e a flexibilidade que o carro nos proporcionou fez valer à pena. Programe cerca de 4 horas para chegar ao monte.
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3. Excursões turísticas:

Certamente, você encontrará facilmente a oferta de tours, saindo de Paris, em um bate-e-volta para o Mont Saint-Michel. Mas, na nossa opinião, as desvantagens desta opção são muitas: não é barato; passa pouco tempo no destino; costuma chegar junto com outras excursões, apenas te permitindo a visitação durante o horário de maior concentração de turistas (e o local é bem apertado); não permite aproveitar o lugar durante a noite; e ainda é bem cansativo, já que você passará a maior parte do dia na estrada indo e voltando. Sinceramente, apenas optaria por esta forma de conhecer o Mont Saint-Michel se, realmente, não houvesse outra forma.

Olha o pouco espaço para muita gente! Pernoitando por lá, conseguimos andar por essas ruelas com bem menos turistas!

Onde se hospedar ao visitar o Mont Saint-Michel?

A primeira pergunta que você deve responder sobre esta questão é se, realmente, você irá pernoitar no local ou se fará bate-e-volta a partir de Paris ou de alguma cidade da Normandia onde já esteja hospedado. Nós, particularmente, ficamos hospedados no local e recomendamos bastante que você faça o mesmo para, não apenas aproveitar o monte ao final do dia, sem mais a multidão de turistas que invade as muralhas do lugar como também para apreciar o monte lindamente iluminado durante a noite.

O Mont Saint-Michel consegue ficar ainda mais bonito à noite!

E se, assim como nós, você optar por esta pernoite, há duas opções principais de hospedagem:

Dentro das muralhas do monte: há poucos hotéis no interior da cidade murada, até porque o local é pequeno e o número de habitantes é bem restrito (não chega a 100). Consequentemente, os valores são bem mais altos. Esteja atento também para o fato de que não existe tráfego de carro dentro das muralhas e, portanto, você terá que seguir puxando sua bagagem pelas ladeiras do local.

Hotéis localizados no complexo turístico em frente ao monte: são opções menos caras e que também permitem a visita do monte à noite, já que os ônibus regulares que levam os visitantes até lá funcionam até tarde.

Inicialmente, queríamos muito ficar dentro do monte. No entanto, ao perceber que havia ônibus frequentes indo e vindo do monte até tarde da noite, preferimos economizar e ficar em um hotel fora do monte, mas não, por isso, mal localizado.

Ficamos no Hotel Vert, que contava com estacionamento privativo para o nosso carro alugado e tinha uma parada de ônibus quase em frente. Pegando o ônibus, em cerca de 5 minutos, já estávamos na entrada do monte. O hotel era limpo e contava com uma equipe atenciosa. Nosso único problema foi em relação ao fornecimento da senha para que passássemos pela cancela que dá acesso ao complexo turístico.

Explico: apenas carros autorizados (incluindo aqui apenas aqueles que têm reserva em algum dos hotéis) podem acessar o local. mas, para isso, cada hotel tem que passar para o seu hóspede, no dia do check-in, a senha a ser digitada no painel em frente à cancela de acesso. Afinal, a senha muda todos os dias e, sem ela, não tem como passar.

O problema é que não recebi nenhum e-mail do hotel e, embora tenha eu mesmo mandado diversos e-mails e, inclusive, mensagens para o whatsapp do hotel, não recebi nenhuma resposta. Resultado: nos vimos parados numa fila de carros, cujos motoristas, assim como nós, não tinham recebido a senha dos respectivos hotéis. Solução: enquanto um ficava ao volante, o outro (no caso, eu) teve que descer do carro e seguir o trajeto a pé até o hotel para conseguir a senha. Confesso que entrei no saguão bem irritado, mas os recepcionistas me trataram tão bem que me desarmei. Eles me mostraram o e-mail enviado, mas que, infelizmente, não recebi e me pediram mil desculpas.

De qualquer modo, considerando o grande número de visitantes que também não tinham a senha, acredito que os hotéis do lugar têm que se organizar melhor para facilitar a vida do turista e evitar as filas que se formam em frente à cancela.

Como funcionam as marés?

Aqui explico algo importante para aqueles que planejam uma visita ao Mont Saint-Michel. Afinal, o fenômeno das marés não ocorre em todos os dias do ano, havendo aqueles em que nenhuma diferença perceptível entre as marés baixa e alta ocorrerá. Portanto, é extremamente recomendado que você cheque, no site oficial do Mont Saint-Michel, o horário das marés.

Página do website oficial do Mont Saint-Michel. Para ter acesso à tabua das marés, basta clicar em times of the tides (circulada em vermelho na imagem)


Se o dia em que você pretende fazer a visita não estiver listado na tábua das marés é porque naquele dia não ocorrerá o fenômeno. E, talvez, o melhor seja reprogramar a data da sua viagem.

Uma vez escolhida a data, perceba que há dois horários em cada dia nos quais ocorrem o fenômeno. O horário especificado corresponde, na verdade, aquele em que a maré atingirá o mais alto nível (a altura máxima da maré é também especificada). Portanto, recomenda-se que você chegue a algum ponto de observação cerca de 2 horas antes do horário especificado para poder ver, em sua totalidade, o movimento da maré invadindo toda a baía em torno do monte. A muralha que cerca o vilarejo costuma ser o ponto de observação óbvio.

Assistindo a maré enchendo da muralha do Mont Saint-Michel


Aqui a maré começa a invadir a entrada do monte. Até os caiaques já começam a se aproximar. Neste momento, já havíamos deixado a muralha e saído do monte, pois achávamos que após a água chegar exatamente na entrada, não teríamos mais como sair. Só depois descobrimos que há uma saída lateral que permite que os turistas deixem o vilarejo sem passar pela água.

E um alerta importante: por mais irresistível e seguro que possa parecer, não se arrisque sozinho pela baía. Há tours guiados para este tipo de passeio, com profissionais que conhecem a área e o movimento das marés. Ser surpreendido pela cheia da maré pode ser extremamente perigoso para quem for imprudente a ponto de caminhar sem auxílio pela baía.

Como deu para perceber, faz parte também, da programação da visita ao Mont Saint-Michel, uma avaliação prévia dos horários das marés cheias. Afinal, você deverá se programar para estar no interior da cidade murada no horário certo para conseguir assistir ao fenômeno.

Pronto! Acredito ter detalhado aqui as principais dicas necessárias para organizar seu passeio ao Mont Saint-Michel. Detalhes sobre a nossa visita, incluindo a visita que fizemos à abadia no topo do monte, serão descritos no próximo post.


OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.

2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

2 comentários:

  1. Sua orientação foi muito importante para nós. Embora preferimos ter ido de trem e ônibus. Nosso hotel dentro das muralhas por preço bom ...decolar. Deixamos nossas malas num IBIS em Paris e fomos com o básico. Talvez isso sirva de dica também prós viajantes que não gostam de arrastar malas.obrigada.

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    1. Fico feliz em saber que pude ajudar! :) E valeu demais pela dica de deixar a bagagem no hotel em Paris. Bem mais prático mesmo!! Abraço!

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