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sábado, 19 de março de 2016

E não é que fomos mesmo para a China?

Já há algum tempo vínhamos alimentando o desejo de sair do lugar comum (América e Europa) e se aventurar pela Ásia. Lia relatos na internet sobre viagens pela Tailândia, Indonésia, Japão, Vietnã, e ficava imaginando o quanto seria interessante desbravar países com culturas tão diferentes da que estamos acostumados. 

Mas confesso que a China não estava no topo da nossa lista de países asiáticos para conhecer. Mas como acontece na maioria das nossas viagens, o destino nos colocou a caminho do país mais populoso do mundo. E tudo por conta de uma mega promoção (ou melhor, um erro de sistema da empresa American Airlines). Passagem para Hong Kong por cerca de 700 reais (com taxas!!!). E na data que quiséssemos escolher! Diga se não era imperdível? Não pensamos duas vezes.

Hong Kong


E escolhemos o período do carnaval para aproveitar o feriado prolongado. Infelizmente, como não estávamos de férias, não seria possível passar tanto tempo, o que seria mais apropriado para tanto tempo de voo (seriam mais de 40 horas para chegar lá!!). Mas já seria um período de tempo suficiente para sentir, vivenciar e entender um pouco da cultura chinesa, do seu povo e da sua realidade.

O voo chegaria e partiria de Hong Kong, mas, como todo relato que lia sobre a cidade falava sobre a grande influência do ocidente sobre esta metrópole (sempre a definindo como a Nova York do Oriente), decidimos que teríamos que escolher algum outro destino na China para também visitar.

Pequim seria a escolha mais lógica. Afinal, seria a oportunidade de conhecer não apenas a capital do país, como também de visitar a Grande Muralha da China. Mas, como todos devem saber, o país é imenso (o terceiro maior do mundo) e as distâncias entre as suas cidades principais não são nada desprezíveis. Um trem de alta velocidade entre Hong Kong e Pequim, por exemplo, nos custaria 12 horas de viagem durante o dia e a um preço que não valeria à pena. E as passagens de avião estavam absurdamente caras. 

Após uma rápida pesquisa sobre o país, descobri, então, que a China não era apenas Pequim, Hong Kong e Xangai. Havia muito mais lugar para se conhecer. E as cidades de Guilin e Yangshuo (das quais, confesso, nunca havia ouvido falar) chamaram a nossa atenção. Localizada relativamente próxima a Hong Kong (o conceito de próximo muda um pouco em um país imenso como a China), Guilin poderia ser acessada através de trens de alta velocidade. E, a partir dela, um passeio de barco nos levaria de barco até Yangshuo, atravessando paisagens fantásticas. 

Passeio de barco entre Guilin e Yangshuo


As fotos da região me conquistaram ao primeiro olhar. Nós precisávamos fazer aquele passeio. Seria a oportunidade de conhecer o interior do país, chegar mais perto da sua cultura e nos deslumbrar com os encantos daquela natureza surreal.

Por último, resolvemos incluir Macau no roteiro. Afinal, a cidade colonizada pelos portugueses é facilmente acessada a partir de Hong Kong de barco. E um dia na cidade seria suficiente.

Estava montado o nosso roteiro: Hong Kong - Guilin -Yangshuo - Guilin - Hong Kong - Macau

Montar esse roteiro foi fácil?

De forma alguma! Confesso que este foi o roteiro mais difícil que já montei. Não exatamente por causa de Hong Kong e Macau, uma vez que existem muitas informações sobre as duas cidades na internet. O problema mesmo era conseguir informações sobre Guilin e Yangshuo. Tudo muito superficial. Tive que, praticamente, garimpar informações práticas que achamos tão facilmente quando pesquisamos sobre cidades mais populares. Custo das principais atrações, melhor forma de se chegar até elas, melhores lugares para se hospedar, funcionamento do transporte público, tudo isso era escasso na internet.

E acredite: isso me deixou bastante ansioso. Afinal, estávamos indo para um país completamente diferente do habitual. Estávamos saindo da nossa zona de conforto. E se houvesse imprevisto? Conseguiríamos resolver? E se o dinheiro não desse? E se nos perdêssemos?

E o que posso adiantar é que, inevitavelmente, estes imprevistos aconteceram. Nunca uma viagem nossa teve tantos acontecimentos inesperados e nunca o roteiro teve que ser tão modificado à medida que as coisas não funcionavam exatamente como eu havia lido na internet. Até porque, além das informações serem escassas, algumas delas estavam completamente erradas...

Para completar, nossa viagem coincidiu com o período de comemoração do Ano Novo Chinês, o que apenas contribuiu para os imprevistos, como eu explicarei em outro post. Mas adianto logo aqui: se for para a China, evite esta época do ano!!

No entanto, ao final, mesmo com os imprevistos, tudo acabou dando certo. E além de exótica, a viagem para a China acabou sendo uma grande aventura e uma experiência única por ter nos tirado de nossa zona de conforto. Tivemos a verdadeira percepção de que o mundo é, realmente, imenso, de que as pessoas são ainda mais plurais do que imaginávamos e que tudo nesta vida é apenas questão de ponto de vista...

Principal rua de Yangshuo

Afinal, olhamos para os chineses como se eles fossem seres humanos exóticos, mas quando estamos no país deles, nas cidades deles, nós que somos os diferentes. E tão diferentes a ponto de sermos apontados, observados e fotografados o tempo inteiro. Confesso que isso não chegava a me incomodar, mas dependendo da sua personalidade, vá preparado.

No entanto, se a sua pretensão é a de conhecer apenas Hong Kong, não perceberá tanto este aspecto do país. A cidade, como explicarei em outro post, é relativamente independente do restante da China (assim como Macau) e tem uma abertura bem maior e mais antiga ao Ocidente. Portanto, os habitantes já estão mais acostumados com os ocidentais.

No entanto, a perspectiva do que é ou não exótico não foi a única coisa modificada na nossa percepção. Inevitavelmente, alguns mitos e, porque não dizer, alguns preconceitos sobre o país e seu povo caíram por terra, como por exemplo:

1. Os chineses são todos iguais: não!! Afirmação completamente errada!! Eles são tão diferentes entre si quanto nós. E foi preciso me jogar no meio daquela multidão de chineses para perceber isto. E olha que eles são muitos, bilhões!! E, mesmo assim, completamente diferentes uns dos outros. 

2. Nós já conhecemos comida chinesa: não!! Errado!! Muito errado!! Estes restaurantes chineses nos quais comemos pelo Brasil tem uma comida muito diferente da verdadeira comida chinesa. Na verdade, a única coisa mais ou menos igual que vi foi o arroz (como não poderia deixar de ser em um país cuja plantação de arroz é algo cultural e milenar entre o seu povo). De toda a forma, seu sabor não me agradou. Eles utilizam algum tipo de tempero que deixa tudo intragável para o meu paladar. Além de deixar um odor que me incomodava bastante. Confesso não ter experimentado nada de que tenha gostado. E esteja preparado para ver alguns alimentos bizarros também, como insetos dos mais vários tipos, espetinhos de tudo no mundo (procurei tanto os de escorpião, mas não encontrei), pés de galinha empacotados para sair comendo pela rua, saquinhos de grilos (acho que eram grilos!) e outras coisas que embrulhavam o meu estômago. O que nos salvou? As grandes redes, como McDonalds e Pizza Hut. Sim! Elas não estavam apenas presentes em Hong Kong, mas também no interior do país, o que me leva ao terceiro ponto...

3. A China é um país fechado ao mundo ocidental: confesso que, na minha mente, após sair de Hong Kong (cidade bastante ocidentalizada) e chegar ao interior da China, eu veria um país sem nenhum traço do ocidente. Eu não poderia estar mais enganado! As grandes marcas estão todas lá, seja de roupas, acessórios, carros ou eletrônicos. E os chineses parecem consumir tudo que veem pela frente. A minha sensação foi a de que o que se tentar vender no país, eles compram. Claro que estou falando da parte da população que tem dinheiro. Afinal, é um país com muita pobreza ainda. Mas como são bilhões de chineses, deve haver muitos chineses ricos também. E, não à toa, todos tinham iPhone, muitos dirigiam BMWs e as filas em frente às lojas da Prada (parecia haver uma em cada esquina de Hong Kong) davam volta nos quarteirões.

Já outras coisas que havia lido na internet (e que torcia que não se confirmassem) se mostraram a mais pura verdade:

1. Os chineses são mal educados: sim!! Eles, de uma forma geral, não parecem ter noção de educação, o que se reflete, principalmente, no trânsito (extremamente caótico em Guilin, com motos transitando o tempo todo pelas calçadas) e nas filas. O que dizer das filas? Que elas não existem seria o mais correto. Bastava amontoar um monte de chinês em frente a uma porta a ser aberta para começar o tumulto. Todos se empurrando numa tentativa desesperada de entrar logo. E isto, mesmo nos locais onde já havia lugar para todos sentarem, por exemplo. Não há um motivo. Eles simplesmente saem desesperados atropelando quem estiver pela frente. Em alguns momentos, fiquei bem irritado com os empurrões. Em outros, apenas caí na gargalhada ao ser levado pela massa ensandecida de chineses. Agora imagina aí que viajamos durante o feriado do Ano Novo Chinês, época em que ocorre a maior migração humana do planeta. Eles estão viajando para todo lugar do país e visitando as atrações turísticas das suas cidades. Uma multidão. Mas uma multidão que não sabe formar nem respeitar uma fila. Imaginou? Pois saiba que é pior do que o que você está imaginando...

Eu sei: o brasileiro também não é um povo educado. Concordo! Mas eles estão bem pior do que a gente!!

2. Os chineses não são muito limpos: infelizmente, não posso defendê-los nesse aspecto. Não consegui descobrir sobre o hábito deles em relação ao banho e ao uso de desodorante. Mas, de uma coisa, pude ter certeza: eles não frequentam o dentista. Aliás, essa profissão não deve dar muito dinheiro por lá. Nunca vi tanta gente com os dentes estragados. E não eram pessoas pobres e sem condições não. Era uma bolsa Prada numa mão, um iPhone na outra e os dentes imundos na boca. Por que isso?? Alguém sabe explicar??? Por uma campanha de higiene dental comandada pela OMS na China já!!

3. Os chineses não sabem falar inglês: eu havia lido várias referências sobre isto na internet e como isso poderia atrapalhar a vida de um turista no país. E pude sentir na pele a grande verdade desta afirmação. E embora isto, obviamente, não aconteça em Hong Kong (afinal, a cidade foi colonizada pelos ingleses), encontrar alguém que fale o idioma no restante do país pode ser uma tarefa ingrata. Em uma situação de estresse que vivenciei, por exemplo, tive que começar a gritar "I need help", na intenção de conseguir encontrar alguém que falasse a língua. E claro que existem chineses que falam inglês. Mas eles são poucos. E, ao encontrá-los, pergunte logo tudo que você precisa saber. Nunca se sabe quando conseguirá ter esta sorte novamente!!

Como deve ter dado para perceber, viajar para a China foi uma experiência bem diferente do habitual. Se valeu à pena? Claro que sim!! Como citei antes, foi uma maneira de sair da nossa zona de conforto, abrir mais nossos horizontes para o mundo, além de ter nos dado a oportunidade de vislumbrar paisagens inesquecíveis e atrações imperdíveis. E tudo por apenas 700 reais, aproximadamente.

Templo budista em Hong Kong


Tenho, portanto, muita coisa para contar. Muita experiência para dividir. E muita dica para dar. Aguardem!!







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