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sábado, 14 de julho de 2018

Como é o primeiro dia de travessia entre o Atacama e o Salar de Uyuni

Já dadas todas as dicas sobre a travessia entre San Pedro do Atacama, no Chile, e Uyuni, na Bolívia, chegou a hora de contar como foi a nossa experiência e mostrar tudo que vimos pelo caminho, começando pelo primeiro dia.

Como seria um dia bem longo, repleto de atrações naturais em solo boliviano, a agência combinou de passar bem cedo no nosso hotel. Mas como ela foi pegando passageiro por passageiro do 4x4 (um total de 5 integrantes), hospedados em locais diferentes, a van acabou atrasando uns 15 minutos para nos pegar.

Eu, extremamente ansioso, já achei que a agência tinha nos esquecido e entrei logo em contato por mensagem. Mas depois que fui entender como funcionava a logística e relaxei. 

Olhando em retrospecto e relembrando a Laguna Colorada, não quero nem pensar na alternativa de ter perdido este passeio
O carro que pegou o nosso grupo ainda não era o que nos levaria pela travessia. Nem o motorista que nos pegou era ainda o guia que nos acompanharia por aqueles dois dias e meio de aventuras. Na verdade, a troca é feita após passar pela aduana chilena, já na aduana boliviana.

A primeira parada, na aduana chilena, fica bem próximo a San Pedro do Atacama e lá passamos apenas alguns minutos resolvendo as questões burocráticas. Seguimos, então, para a fronteira com a Bolívia, onde chegamos com menos de 60 minutos de viagem.

E é na aduana boliviana, onde, enfim, nossa bagagem é trocada da van para o 4x4 e nós conhecemos o nosso guia, que fica preparando o nosso café da manhã, que será tomado ao ar livre, enquanto vamos para a fila da imigração com o nosso passaporte.

Vale ressaltar que deverá ser pago 15 bolivianos para dar entrada na Bolívia. Portanto, é importante já iniciar a travessia com a moeda boliviana no bolso (até porque você ainda terá que pagar para acessar a reserva natural, como explicarei abaixo). Em San Pedro do Atacama, há casas de câmbio, onde você pode comprar bolivianos no dia anterior ao início da travessia.

Toda a estrutura da aduana boliviana é bem precária, já dando uma ideia da infraestrutura (ou falta dela) que você encontrará daí em diante. Mas quem precisa de uma boa estrutura quando se tem um vulcão como paisagem? O Juriques (famoso pelo formato plano do seu cume), vulcão que adorna as paisagens do Atacama, aparecia imponente enquanto tomávamos café da manhã ali na fronteira e conhecíamos melhor os outros 4 participantes do nosso grupo de travessia, além do guia.

O posto de controle boliviano na fronteira


O Juriques enfeitando a paisagem desértica


Nosso café da manhã sendo preparado


O Juriques


Da fronteira, seguimos viagem já em solo boliviano no nosso 4x4. Mas as questões burocráticas ainda não estavam todas finalizadas. Bem próximo da fronteira, paramos em um posto de controle, onde adquirimos um ingresso para ter direito de conhecer a Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa.

Esta reserva, pertencente ao Departamento de Potosí e repleto de lagunas, vulcões, flamingos e guanacos, abrange a maior parte da área que percorreríamos nos próximos dias, nos encantando com a paisagem surreal que, muitas vezes, parecia ter sido transplantada de um outro planeta. O ingresso nos custou 150 bolivianos e deve ser guardado, já que será necessário mostrá-lo na saída da reserva. 

Neste posto de controle, é preciso também preencher aqueles formulários típicos de imigração (até agora não entendi porque eles não são preenchidos na fronteira) e há banheiros pagos em um hostel localizado em frente. Aproveitamos para esvaziar a bexiga, já que apenas teríamos acesso ao banheiro novamente na hora do almoço.

E, finalmente, chegara a hora de começar a conhecer as atrações da reserva. Saímos do posto de controle e, em menos de 5 minutos, o 4x4 parou novamente para que conhecêssemos a Laguna Blanca, a primeira atração do dia. Não poderíamos ter começado melhor.

Com um espelho d´água que reflete as montanhas que a margeiam, a laguna rende fotos incríveis. Mas é preciso ter sorte para o vento não está muito forte, já que, neste caso, o reflexo fica prejudicado pelo movimento da água.

A Laguna Branca


Paisagem surreal




O espelho d´água que se forma é incrível


Não economizamos nas fotos, claro!




A pouca vegetação em torno é sempre rasteira


Difícil parar de admirar


Da Laguna Blanca partimos para a Laguna Verde, a poucos minutos de distância. Adorei estes nomes dados de acordo com a cor da água das pequenas lagoas da reserva natural. E não são apenas nomes imaginários. A cor da água, realmente, reflete sua designação. Olha abaixo a cor da Laguna Verde.

A  Laguna Verde


A menor das lagunas que conheceríamos durante a travessia


Mas não menos bela


E este vulcão na base do qual está a Laguna Verde é bem conhecido por aqueles que passearam pelo Atacama antes de iniciar a travessia. É o famoso Licancabur, mas agora visto a partir da Bolívia.

É na base do Vulcão Licancabur que se encontra a Laguna Verde, no lado boliviano


Os contrastes de cores na reserva boliviana são de encher os olhos

E a poucos minutos de distância da Laguna Verdade, o guia parava novamente para admirarmos o chamado Deserto de Salvador Dalí que, de tão surrealista, acabou herdando o nome do famoso pintor. E o nome faz justiça. Sem dúvidas, Dali teria amado pintar aquela paisagem.

O Deserto de Salvador Dalí


A gradual variação de cor do Deserto de Salvador Dalí



Ao redor, não havia o menor sinal de civilização. O silêncio era apenas quebrado pelo motor do nosso 4x4 e por nossas vozes


Àquela altura, o frio já havia amenizado e pudemos tirar um pouco os casacos

E logo que voltamos ao carro para seguir viagem, surgiram os simpáticos guanacos ao longo do caminho. Já havíamos os visto durante a nossa visita às Lagunas Altiplânicas do Atacama, mas é sempre uma emoção a mais avistá-los novamente.

Guanacos


Animais vivendo tranquilamente sem a interferência humana!


Nossa próxima parada seria nas Termas de Polques, piscinas de águas termais (afinal, a região é repleta de vulcões) em que podemos entrar para relaxar um pouco. Portanto, se tiver interesse, leve roupas de banho. Nós, inclusive, já fomos com elas por baixo de nossas roupas, para facilitar nossas vidas (e leve toalha também, porque não há nenhuma disponível por lá).

Inclusive, é neste local onde o guia prepara o nosso almoço em uma casa ali localizada para o uso dos vários motoristas de 4x4 que vão parando. Há também um banheiro (imundo) e um local específico para trocar de roupa. Tudo bem básico e simples.

Termas de Polques


Há mais de uma piscina no local


Entrando nas águas termais


E relaxando com esta vista


Amamos este lugar


Cabana destinada à troca de roupa


Confesso que, na hora de tirar a roupa para entrar na piscina, bate um medo do vento frio, mas a temperatura da água é deliciosa e vale demais o banho. O pior é o choque térmico na hora de sair o que, associado ao esforço de deixar a piscina, já em altas altitudes, faz a pessoa se sentir um pouco mal. Além de nós, mas outros dois integrantes do nosso grupo também entraram na piscina e tiveram a mesma sensação ao sair.

A partir deste momento, não parei mais de sentir dor de cabeça e falta de ar em decorrência do mal da altitude. Mas nada que me tenha impedido de fazer absolutamente nada.

Novamente vestidos e deixando nossas toalhas penduradas no 4x4 para secarem, entramos na casa onde seria servido o almoço. Cada grupo de cada guia sentou-se numa mesa específica. O almoço servido estava uma delícia e a opção vegetariana de Técio foi respeitada. Pena que, a partir daqui, o guia não parou mais de fazer piadinhas irritantes com o fato dele não comer carne.

Obviamente, esta foi a parada mais longa do dia. O grupo aproveitou para se conhecer melhor e, por sorte, gostamos de todos os nossos companheiros de  travessia (exceto do guia que nem ao menos se esforçava para explicar muita coisa dos locais por onde passávamos).

Apreciando a vista enquanto o nosso guia terminava o nosso almoço

De barriga cheia e descansados, seguimos rumo à próxima parada (uma das quais eu estava mais ansioso para conhecer): os Gêiseres Sol de la Mañana. E eu tinha razão para estar ansioso. O lugar é sensacional.

Gêiseres Sol de la Mañna


Nunca havia visto lava vulcânica antes. E lá estava ela, borbulhando nos vários buracos vulcânicos espalhados. De alguns saia fumaça do interior da terra com forte cheiro de enxofre. E nós parecíamos crianças vendo tudo aquilo. E acabamos chegando mais perto das fumaças do que era permitido (só depois que vimos uma placa pedindo para não se aproximar da fumaça).

Lava vulcânica

Fumaça vulcânica



Sim! Eu estava com falta de ar devido à altitude, mas pulei mesmo assim!!


Crianças
Obviamente, tem que ter cuidado onde se pisa


Encantado!!


Nós amamos conhecer os Gêiseres Sol de la Mañana, diferente de tudo que já havíamos conhecido



Não façam como nós. Não deixem para ler as placas no final!

Os gêiseres ficam a mais de 5 mil metros de altura. Cansei para sair do carro, cansei para caminhar entre as aberturas vulcânicas e tive muita dor de cabeça. Mas deixei tudo isso pra lá e pulei pra foto,  caminhei por todo o local e ainda corri fugindo da fumaça. Eu iria bem perder aquela oportunidade?

A próxima parada também era motivo de ansiedade: a Laguna Colorada. Desde que vi fotos do lugar na internet que sonhava em conferir de perto se aquela cor vermelha da água era realmente possível. Precisava ver para crer!

Mas a cor da água não era o único motivo para a nossa ansiedade em conhecer a lagoa. Afinal, ela é o habitat natural de milhares de flamingos, um dos moradores mais ilustres da região.

E a Laguna Colorada não apenas comprovou ser real aos nossos olhos como também superou todas as nossas expectativas. Foi a parada mais especial do dia. Nunca na vida havia sonhado em conhecer uma lagoa de águas vermelhas. Muito menos em ver tantos flamingos juntos, vivendo em paz, longe da humanidade.

Primeiro, o guia parou longe em um ponto onde podíamos ver a laguna à distância, já se destacando a cor vermelha em meio ao cenário. Depois, ele parou próximo à margem e fomos caminhando, ansiosos, para ver toda aquela beleza surreal de perto.

Já vendo a Laguna Colorada de longe


E não é que é mesmo real?

E lá fomos nós para próximo da água

Mais perto


E mais perto


Cor suerral


E muito flamingos


Olha eles aí mais perto


Belíssimos!


Eram bem mais flamingos do que podíamos imaginar, misturando-se com a cor vermelha das águas. Que vista inesquecível!! Emocionante, no mínimo!!!

Obviamente, é natural que a gente queira chegar o mais perto possível da água e dos seus habitantes. O problema é que, já próximo à água, há muita (muita mesmo!!) lama. E, se você não tiver com um calçado apropriado vai ser bem complicado. Sujamos bastante os nossos tênis e não conseguimos chegar tão perto quanto queríamos. Tinha momentos em que nossos pés afundavam na lama a ponto de quase ficarem presos nela.

Além disso, os flamingos daquela região tão isolada não estão acostumados com a nossa presença. E sempre que tentarmos chegar mais perto deles, eles irão se afastar. E com toda a razão. Tem animal mais perigoso para a natureza do que o ser humano? No lugar deles, eu sairia correndo aos gritos sempre que visse um humano!

Não conseguimos chegar muito mais perto do que isto


Garantindo a foto com os flamingos


Entrando de intruso na paisagem


Fui o último do grupo a chegar de volta ao 4x4. Afinal, estava difícil pra mim deixar tanta beleza para trás. Vontade de passar mais alguns minutos em silêncio apreciando aquilo tudo! Mas, infelizmente, o guia que determinava o tempo em cada local.

Foi difícil dizer adeus à Laguna Colorada


E, assim, com os tênis encharcados de lama, mas com o coração e a mente encharcados de beleza, seguimos rumo ao local onde nos hospedaríamos naquela noite.

Acho até que chegamos cedo demais. Ainda era final da tarde. Fomos servidos com um lanche e ficamos conversando em torno da mesa. O frio já aumentava e todos haviam decidido não tomar banho. Mas depois de um dia no deserto, não tinha perigo de eu ir dormir sem um banho.

Paguei pela água quente; liguei o chuveiro; a água não esquentou; Técio foi atrás de alguém para ver qual era o problema; eu, já sem roupa, me enrolei na toalha enquanto aguardava com os pés dentro da água cada vez mais gelada; e após 40 minutos de "liga e desliga o chuveiro" para ver se água esquentava, descobriram que o problema era a bateria do aquecedor; e, enfim, já no completo escuro (anoiteceu e não havia lâmpada no banheiro), tomei meu banho. Foi difícil? Foi, mas dormi de banho tomado e era o que importava.

Jantamos, ouvimos mais uma piadinha irritante do guia sobre Técio ser vegetariano, conversamos mais em torno da mesa e, então, sem mais nada para fazer, fomos dormir.

O dia havia sido incrível e viria a ser o nosso preferido de toda a travessia. Foram muitas belezas inesquecíveis no caminho e sem muito tempo de tédio dentro do 4x4. Se não me engano, o trecho entre a Laguna Colorada e a hospedagem foi o mais longo do dia. Antes disso, muitas paradas, muitas paisagens surreais, muitas memórias que jamais nos deixarão.

A travessia já estava valendo à pena...

Tinha como não valer?




OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.

2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio



13 comentários:

  1. Nossa, encantada com as paisagens! Uma beleza surreal, não? Tenho muita vontade de fazer essa viagem, mas tenho medo também de passar mal com a altitude. Que dica você dá para a gente tomar cuidado com isso? Tipo, existe algum "preparo"?

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    1. Há algumas precauções sim: não ingerir bebida alcoólica, fazer o mínimo esforço, tomar chá de coca. Se chegar em um local de alta altitude e tiver tempo, tirar o rpimeiro dia para descansar e, assim, aclimatar. Sempre vc já sai fazendo algum esforço de cara, os sintomas aparecem de forma mais rápida e intensa!

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  2. Ainda não conheço o Atacama e sempre pensei em fazer os dois destinos juntos, incluindo o Uyuni. Gostei das dicas deste post e já vou ler o outro com dicas gerais! É muito importante conhecer a experiência de quem já fez a travessia, principalmente para escolher a empresa certa para o roteiro. Obrigada por compartilhar sua viagem!

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  3. Sempre fico preocupado em ser enganado e perder o passeio na mão de alguma agencia estranha, mas 15 min nem me preocupam hahahahaha, já passei mais de 1h esperando agencia em atraso me buscar, imagina a tensão?! hahahaha Viajei por lá novamente lendo seu post, o lugar é incrível mesmo

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  4. Carambaaa, quanta imagem linda, deve ter sido uma viagem incrivel, essa trip já esta na minha listinha e seguirei as dicas de vcs!! Fiquei babando com os banhos termais!!

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  5. Eu se fosse um flamingo também sairia correndo de um ser humano hahhaha
    Fiquei encantada com o seu post, as fotos e a descrição detalhada... Realmente, preciso colocar urgente na minha wish list! Apesar do medo de passar mal com a altitude, td mundo que vai sobrevive kkkkkk então td bem... Acho que no final vai valer a pena né??

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  6. Esse passeio acho essencial pra todos os habitantes vivos da terra rs. Eu amei fazer, mas não tive coragem de entrar nas termais, tava muito frio!! Kkkkk

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  7. Uauuu... haja fôlego para tanta paisagem maravilhosa. Mesmo com alguns perrengues de dor de cabeça acho qur valeu neh.. mas eu não teria coragem de entrar naquelas águas termais...hehehe.. de toda forma deu pra sentir cada passo com vcs. Valewww

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  8. Estive no Atacama e achei as paisagens nada menos do que fenomenais. Porém não tivemos tempo de fazer a travessia até o Salar de Uyuni. Uma pena, porque, pelo que vejo, as paisagens são belas e também diferentes daquelas vistas no Chile. Massa demais!

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  9. Nossa, só pelas fotos dá pra perceber como o lugar é lindo!!! Tenho muita vontade de conhecer. O ar deve ser bem seco né? Alguma recomendação especial pra isso? Parabéns pelo post.

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    1. É muito seco sim! Resseca olhos, nariz e garganta. A recomendação é ingerir muito líquido o dia inteiro. para os olhos, vale à pena ter colírio em mãos!

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  10. Nossa, achei que fosse muito mais perrengue essa viagem! Vou voltar pro Atacama e agora quero fazer a travessia, tem algum item que vc acha que não pode esquecer de levar?

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